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O Tallit de listras coloridas do Reb Zalman

A história começou quando Reb Zalman estava meditando sobre o Midrash: "Como De!s criou o mundo? Ele envolveu-se em um manto de luz, e começou a brilhar". De repente, Reb Zalman teve um insight—um download—de um Tallit tecido em cores vibrantes do arco-íris. Foi radical—e foi lindo!

Por volta de 1961, o projeto estava pronto para ser apresentado aos artesãos. Naquela época, os tecelões de Tallit eram todos ortodoxos e não estavam dispostos a participar dessa "mishigas" (maluquice). Reb Zalman foi passando nos fabricantes do Brooklyn, um por um, mas todos recusaram. "O que é isso que você quer? Um Tallit de Purim?", perguntou um velho Chasid na fábrica Tallitim Munkatcher. "Isso é algum tipo novo de seita ou algo assim?"

Mas o design que Reb Zalman imaginou estava longe de ser um "Tallit de Carnaval". Cada uma das cores, bem como a largura e arranjo das próprias listras, baseou-se nas sete sefirot inferiores do diagrama da Árvore da Vida, uma das bases da tradição mística e cabalista Judaica. A explicação do Reb Zalman era:

"De!s se envolveu em um manto de luz para criar o mundo. Esta luz, a Luz Primordial, tem em seu espectro linhas pretas, como se vê em um espectroscópio. Uma vez comecei a ver o espectro. Eu me perguntava, quais deveriam ter linhas pretas? Eu vi as linhas negras como um kli, um "receptáculo da criação". Então, qual das sefirot precisam ser contidas? Certamente não Gevurah e Malchut, porque elas próprias tem a naturalidade dos limites. Por outro lado, Tiferet e Yesod precisam de fortes limites. Em seguida, houve a questão de quais listras devem ser mais largas, e como elas devem ser espaçadas.

O resultado foi: a atarah (tira bordada) do Tallit é Keter, a Coroa, a Fonte da Luz Branca, que a partir daí transita para Chochmah-Binah (ainda brancas), e depois vem Chesed (Amor Incondicional ou Graça), que é a listra violeta mais larga. Como representa o Primeiro Dia da Criação e a saída da escuridão para a luz, o violeta se transforma em lavanda (lilás) e assim existem duas tonalidades de roxo.  A cor lavanda, mais clara, já contém alguma luz, e a listra é bem larga por causa da natureza de Chesed, que é ampla e vai se expandindo, e por isso precisa também do preto para limitá-la.

A próxima listra é azul tchelet representando Guevurah (força ou rigor). Esta listra representa o segundo dia da Criação, quando as águas de cima foram separadas das águas de baixo. Como Guevurah é por natureza a sefirah dos limites  não precisa das linhas pretas.

No Terceiro Dia a Vegetação foi criada, e é representada pelo verde. De!s diz duas vezes "Isso é bom" também neste dia, então são duas faixas, com o branco da luz de Keter aparecendo no meio. Tiferet, (como o chakra do coração) precisa de um continente, então aqui também estão as linhas pretas.

Depois vem Netzach, o Quarto Dia. O sol, a lua e as estrelas foram criados, então são representados pelo amarelo. No Quinto Dia, foram criados peixes, répteis, pássaros e insetos, todos os animais que põe ovos, então a cor para Hod é o laranja, como as gemas.

Agora, a faixa vermelha é Yesod (Fundação), que também pode representar o Ego, então naturalmente precisa de um vaso muito forte para contê-lo. E como os mamíferos placentários foram criados no sexto dia, este é vermelho, por causa do sangue da vida.

E por último, chegamos a Malchut, o Reino, que é a Terra, representada pelo  marrom, porque todas as coisas ficam marrons e voltam para a terra quando morrem."

Assim, o padrão continuava se tornando cada vez mais claro, e a busca por um tecelão continuou fora da comunidade ortodoxa. Uma vez, em uma viagem a Montreal, Reb Zalman resolveu olhar a lista telefônica e descobriu Karen Bulow, Vetements Religieux—uma companhia de vestimentas Cristãs! Eles topariam fazer? Depois de uma conversa por telefone, Reb Zalman correu em êxtase para a rua e pegou o primeiro táxi. Sim! Eles iriam confeccionar o Tallit, mas ele teria que comprar cinco unidades, pois não valia a pena produzir só um. "Lógico! Quero os cinco!"

Finalmente os Tallitim ficaram prontos: Reb Zalman ficou com um, Abraham Joshua Heschel com outro, Everett Gendler com outro e Arthur Green com outro. E o quinto, com quem ficou? Reb Zalman dizia: "Não sei! Talvez ele pertença a todos nós, porque aqueles cinco abriram as portas para os Judeus começarem a personalizar seus Tallitim e a expressarem suas visões pessoais do Jewish Renewal Espiritual."  

Com o passar dos anos, Judeus ensinaram outros Judeus, que ensinaram outros. Reb Zalman nunca registrou direitos sobre o design, e em algum momento uma fábrica em Israel começou a produzir e comercializar "O Tallit de Yossef". Hoje é relativamente comum encontrar os Tallitim de listras coloridas, até na Internet. Tanto é, que um dia um jovem aproximou-se do Reb Zalman, à época já grisalho, perguntando: "Onde você conseguiu o seu Tallit de arco-íris? Eu também tenho um, e o seu é exatamente igual ao meu!"

Reb Zalman sorriu amorosamente. "Sim, Baruch HaShem, eu também tenho um Tallit de arco-íris ..." ele fez uma pausa, um olhar distante em seus olhos, "... nós dois estamos envolvidos no Manto de Luz do Criador". A visão tinha feito o ciclo completo.   

Este texto foi em grande parte traduzido e adaptado do material disponibilizado pela Havurah Shir Hadash, no link:

https://havurahshirhadash.org/story-of-reb-zalmans-bnai-or-tallit/

A foto do Reb Zalman foi obtida da Havurah Shir Hadash.

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